Seu Nogueira
Seu Nogueira é o barbeiro que me corta o cabelo há seis ou sete anos. Ele é um cara bastante detalhista e perfeccionista. Meu cabelo não é dos mais bonitos, mas ele consegue deixá-lo em um estado apresentável.
Seu Nogueira tem dias em que está – digamos assim – inspirado. Nestes dias ele pode passar vinte minutos realmente cortando seu cabelo e mais meia-hora fazendo alguns retoques e ajustes invisíveis. Se não houver mais ninguém na fila, a chance disso acontecer é perigosamente alta. Ele pode facilmente transformar um corte de cabelo de vinte minutos em uma obra de arte de uma hora.
Não que o resultado final não seja bom, mas quando isso acontece comigo eu fico nervoso com uma sensação de tempo perdido. Tenho certeza que ele não tem a mesma sensação, mas ela me aparece facilmente depois que acabo de ler a segunda revista. E olha que no salão dele não tem revista de fofoca e fotos de famosos, a maior parte são aqueles noticiários semanais que as pessoas lêem para ter conteúdo (há algumas revistas de quadrinhos bem interessantes também).
Saindo do salão de Seu Nogueira e chegando à minha área de trabalho onde programo computadores para ganhar o pão nosso de cada dia, noto que às vezes faço como o barbeiro. Às vezes acho algumas coisas tão interessantes que é difícil controlar a vontade de melhorar cada aspectozinho. Por que utilizar esta busca linear ineficiente se eu poderia usar um heap e ter o maior elemento do conjunto sempre disponível? Por que fazer uma lista com campos numéricos para ordenação se eu posso usar arrastar-e-soltar?
Porque quem está pagando é o cliente. Ele pode ter outras prioridades. Assim como eu prefiro sair mais cedo do salão com um cabelo menos perfeito, pode ser que aquela última novidade que me faz ficar em estado de semi-euforia não cause o mesmo efeito nele. Claro que posso (e na verdade, devo) esclarecê-lo das várias opções e seus custos. Mas quem tem que pesar os prós e os contras é ele. Quem vai ganhar (ou perder) com as escolhas é ele, e não eu. Meu trabalho é ajudá-lo a encontrar a melhor forma de maximizar seus ganhos (e evitar perdas) agradando os clientes dele.
O personagem dessa história é baseado em fatos reais, mas o nome é fictício para proteger sua inocência.
2 Comments:
Engraçado como as vezes (ou seria frequentemente?) nós programadores temos ideias mirabolantes, fantasticas, incriveis e... inuteis para o cliente. Como vc bem disse, melhor ele decidir o que é mais valioso.
ps.: Seu Nogueira já tentou fazer uns refactorings no teu cabelo?
valeuz...
ueheuhhehuehu
Meu cabelereiro demora exatamente 7 minutos para cortar o meu cabelo :P E fica bom ainda.
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